SENAR-SP ensina as melhores práticas para produção de cafés especiais
Entidade oferece cursos de manejo, cultivares de arábica, colheita e beneficiamento e de café na gastronomia
O café foi o principal produto de exportação da economia brasileira durante os séculos XIX e XX. Nesse período, o São Paulo ficou conhecido como um dos maiores mercados produtores do fruto, o que garantiu a urbanização das cidades, além de prover o capital necessário ao processo inicial de industrialização do país.
Diferentemente dos frutos produzidos na época, hoje são muitas as variedades do café. É possível notar uma ampla variedade de aromas e sabores que fazem a bebida se tornar uma sensível experiência ao paladar. Segundo Ademar Pereira, presidente do sindicato rural de Caconde, “o café do estado de São Paulo tem ganhado o mercado nacional e, principalmente, o internacional, com uma grande demanda pelos cafés especiais”.
De acordo com a Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), usada no mundo todo, o café especial é todo aquele que atinge, no mínimo, 85 pontos na escala de pontuação da metodologia, que vai de 0 à 100 e avalia os seguintes atributos: fragrância/aroma, uniformidade (cada xícara representa estatisticamente 20% do lote avaliado), ausência de defeitos (doçura, sabor, acidez, corpo, finalização e harmonia) e conceito final (impressão geral sobre o café, atribuída pelo classificador).
Atualmente, o estado é reconhecido como um dos mais tradicionais no cultivo de café. Entre 2019/2020, a cultura do café em São Paulo registrou a produção de 370 mil toneladas (6,17 milhões de sacas de 60 kg), volume 39,7% superior ao obtido na safra anterior.
Devido a essa demanda, o SENAR-SP oferece cursos ligados à cafeicultura, como por exemplo: Manejo e tratos culturais; Cultivares de Arábica; Colheita e beneficiamento; e Instalação da lavoura e café na gastronomia. E para os pequenos e médios cafeicultores que querem aprender ainda mais, a economista e produtora de café especiais, Daniella Pelosini, do município de Pardinho (SP), abre seu sítio e recebe periodicamente interessados em adquirir conhecimentos na prática.
Força comunitária
“Se você quiser ir rápido vá sozinho, agora se você quiser ir longe vá junto”. Com essa frase Daniella Pelosini traduz metade de sua história no setor cafeeiro. O Sítio Daniella é hoje reconhecido mundialmente pelos cafés que exporta para torrefadoras conhecidíssimas no mercado, como a Illy. “Em 2015, quando conhecemos a Illy Café, participamos de um concurso e passamos a vender para eles. Fomos campeões do estado de São Paulo e eleitos o segundo melhor café do Brasil”, conta.
Mesmo após 6 anos, Daniella ainda fica impressionada com as surpresas que a vida proporcionou. “O mais incrível é que naquele ano o prêmio da Illy estava comemorando 25 anos no Brasil, e eu tive o prazer de recebê-lo na ONU, em Nova York. Isso foi muito mais do que eu teria imaginado em meus melhores sonhos”. Mas nem sempre as coisas foram fáceis. Como ela costuma dizer, sua família “não nasceu embaixo do pé de café”, ou seja, foi necessário muito estudo, dedicação e vontade para conseguir chegar a esse título.
A história do Sítio Daniella começou quando a produtora tinha apenas oito anos e seu pai, Laerte Pelosini, comprou a propriedade e passou a plantar um pouquinho de tudo. Com o passar do tempo, o sítio se especializou em gado leiteiro até que Laerte conversou com um amigo agrônomo da antiga cooperativa de São Manuel, que mandou um recado muito bem acertado com o destino: “Esse amigo do meu pai o convenceu a plantar a fruta, simplesmente porque aqui já foi uma região de café e acabou perdendo muito espaço para a cana e o eucalipto”.
Após 15 anos, a família chegou à conclusão de que o gado leiteiro já não estava dando muito retorno e decidiu parar com a produção de Leite B e investir somente no café. Nesse momento, Daniella se dividia entre o curso de economia na FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado) e o plantel. “Decidi cuidar do sítio porque gostava muito e não queria me desfazer, mas para falar a verdade eu não entendia nada de café, e nem gostava muito”, revela a produtora, que, depois de muita especialização, passou a se apaixonar pelo produto. “Hoje eu digo que o café é minha vida, literalmente. É um produto extremamente desafiador, e eu adoro um desafio”.
Além de ser reconhecida no setor, Daniella tem uma história especial junto à luta das mulheres cafeicultoras. “Eu tenho um marco muito legal na história das mulheres no café, porque em 2012 fiz parte do grupo que trouxe a Associação Internacional das Mulheres do Café para o Brasil”. Graças ao seu protagonismo e força de vontade, Daniella conseguiu se destacar e levar com ela a história de outras tantas mulheres que fazem o mesmo.
Hoje o Sítio Daniella conta com uma estrutura de aproximadamente 54 hectares de café, o que equivale a mais ou menos 200 mil pés. Apesar de ter conseguido atingir o sucesso, ela reconhece que o principal fator que diferencia os seus cafés é a contribuição de sua equipe. Aliás, é nesse espírito coletivo, que Daniella abre as portas de sua propriedade para receber cursos de extensão do SENAR-SP e, em conjunto, oferecê-los para pequenos e médios produtores.
A coordenadora do Sindicato Rural de Pardinho, Luciane Correia, conta que sente muita admiração por Daniella. “Se tivéssemos meia dúzia de produtores como ela, com certeza seríamos uma potência. Ela veste a camisa, defende o café e a região, cede seu sítio para a realização dos cursos e nós o utilizamos sem nenhum custo. Ou seja, ela quer muito que toda a comunidade ao redor também evolua”.
Sua colega de profissão, Beatriz Burckas, participou de um dos cursos de Prova e Degustação, no Sítio Daniella. “Esse curso, especificamente, foi bom pra mim, porque na época tudo era novidade, então me ajudou muito a identificar os sabores. Eu sou nova nessa área e estou há apenas seis anos mexendo com café”. Para Burckas, Daniella é uma líder importante, que se preocupa com os demais produtores com a especialização do café na cidade de Pardinho. “Ela teve uma preocupação de trazer a comunidade e fazer com que a região fosse vista”, completa.
Figura inspiradora, produtora e líder comunitária, Daniella dá uma dica para aqueles que buscam se desenvolver na área: “Se eu tivesse que falar algo para quem está começando, eu diria para estudar e para procurar rapidamente um sindicato ou uma associação da cidade, se filiar e, principalmente, acreditar no Sistema FAESP/SENAR-SP. A FAESP é um dos bons motivos para se orgulhar com organizações setoriais no Brasil”.
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