Redes solidárias: Incentivo ao comércio local garante a atividade no campo

Veja o que alguns municípios de São Paulo estão fazendo para driblar a quarentena do coronavírus

Por Eliane Dalpizol

“O coronavírus mudou nossos hábitos, passamos a cuidar melhor da higiene pessoal, da nossa casa e dos locais por onde passamos. A máscara já é um item comum na vida do brasileiro, aliada às medidas de proteção e transmissão do vírus. Mesmo restaurantes e locais de alimentação estão trabalhando com entregas, no sistema delivery. A demanda caiu e, na base, no campo, onde nosso alimento é semeado, cultivado e colhido, é onde se sente o maior impacto, pois além da redução direta da venda, o produtor rural lida com produtos perecíveis, com as intempéries climáticas, sem meios de armazenamento, são produtos que requerem planejamento e tempo para serem colhidos. Esta condição traz um efeito cascata e o produtor rural se viu forçado a mudar a rotina da propriedade, a fim de adaptar-se e continuar fazendo o que sabe fazer”, afirma Hemerson Fernandes Calgaro, engenheiro agrônomo e assistente de planejamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento que atua na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional São Paulo.

Recentemente, um grupo de agricultores, artesãos, cuidadores e outros profissionais liberais de Peruíbe, município do litoral sul de São Paulo e da área de atuação da CDRS Regional São Paulo, organizaram a “Rede Solidária de Peruíbe – Construindo uma nova realidade”, a qual congrega as pessoas, produtores rurais e população urbana, ofertando seus produtos e serviços. O contato e o conhecimento do que está sendo oferecido ao consumidor é feito por meio digital, tanto por ligações telefônicas, aplicativos de mensagens (Telegram, WhatsApp, SMS) como por posts em redes sociais (Facebook, Instagram). A forma de entrega é combinada, da mesma forma que o pagamento, podendo ser em dinheiro, transferência bancária ou cartão.

Alguns dos agricultores familiares que compõe esta Rede são atendidos pelos técnicos da Casa da Agricultura de Peruíbe e/ou por outras Regionais da CDRS. Seus produtos são agroecológicos, produzidos de forma sustentável, e apresentam uma grande variedade: hortaliças, frutas, raízes, ovos, plantas alimentícias não convencionais (PANC), geleias, compotas, sucos, caldos, molho de tomate, homus de sementes de girassol, granola, doces, cocada, salgados (tortas), sopas, tofu, cuscuz, hambúrgueres e quibe veganos, bolos, pães de fermentação natural, frutos do mar, chás diversos, kombuchá, mel, própolis, pólen, cachaça de banana, nhoque de biomassa, requeijão e iogurte orgânicos, além de muito outros produtos.

A produtora de mel, ervas medicinais e frutas cultivadas em sistema agroecológico, Elizabeth Matos é uma delas. A Rede Solidária se estende até onde Elizabeth tem sua área de cultivo e criação de abelhas com e sem ferrão, o município de Miracatu, já no Vale do Ribeira. Elizabeth conta que a Rede Solidária de Peruíbe existe desde 2015, mas foi agora com a pandemia que ela se abriu para abrigar outros produtores e está se consolidando como a alternativa mais viável para todos. “Na verdade, esse é o intuito da Economia Solidária, ela não tem fronteiras municipais. Com esse fortalecimento, de um grupo de oito produtoras, hoje já somos 14, somando outras de Cariri, Pedro de Toledo e Miracatu. Também fazemos parte da ONG Conexão Mata Atlântica que tem, ao longo do tempo, aglutinado os produtores rurais, e da Associação de Mulheres da Economia Solidária (Amesol) que realiza feiras na capital congregando produtoras de várias localidades. Com esse sistema tenho conseguido fazer entregas em Santos, é um trabalho de “formiga”, um leva para outro, que leva para outro e chega lá na ponta, no consumidor final”, conta Elizabeth.

A produtora acredita que este sistema de uma rede de entregas ao consumidor não tem volta. “Foi eminente a necessidade de trabalharmos dessa forma”, argumenta a produtora que disse estar gostando, pois antes perdia muito tempo participando de diversas feiras e agora, fica mais tempo em sua propriedade, dando mais atenção à produção e as vendas, que ao invés de diminuírem, aumentaram. “Nós adquirimos produtos uma das outras também, indicamos novos clientes e isso faz com que a economia gire, todos saem ganhando e esse é o espírito da Economia Solidária”, garante a produtora.

“Nas últimas semanas, o que se tem observado após esse movimento é o incentivo ao consumo de alimentos de procedência local, produtos artesanais agroecológicos e a prática de preço justo. Isso nada mais é do que o tripé da Economia Solidária: uma forma de economia que beneficia os elos locais, numa relação “ganha-ganha”. No caso da Grande São Paulo e dos municípios da Baixada Santista, quase todos da área de abrangência da CDRS Regional São Paulo, é possível, ainda, inserir nesse cenário as comunidades tradicionais e as hortas urbanas, várias com certificação participativa”, confirma o técnico.

Iniciativas como essa de Peruíbe e da Rede Solidária da Baixada Santista, que tem recebido nos últimos anos o apoio do extensionista da CDRS Newton Rodrigues, um defensor da Economia Solidária como forma de atuação, estão sendo implementadas no Estado de São Paulo, no Brasil e no mundo e não somente no ramo de alimentos, mas de serviços e outros produtos, tendo como grande diferencial do chamado comércio convencional, a forma de apresentação, de fechamento do pedido ou compra, a entrega, o pagamento e, principalmente, o incentivo ao consumo de bens e serviços locais. “Trata-se de uma forma de estreitar a relação entre produtor e consumidor, enaltecendo ou criando relações de confiança, respeito e amizade”, afirma Calgaro.

Nos municípios de Mongaguá e Cajamar, com o auxílio dos conselhos agrícolas, dos técnicos das Casas da Agricultura e da CDRS Regional São Paulo, que estão em regime de teletrabalho, e da parceria das prefeituras locais estão sendo construídas novas “Redes” como forma de dar continuidade à cadeia produtiva da alimentação, – que no caso é protagonizada pela agricultura familiar, para que esta forma de trabalhar não seja operacionalizada só nessa época de pandemia, mas que este tipo de organização possa permanecer e crescer.

Com Informações, Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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