São vários os problemas decorrentes dos carrapatos na bovinocultura de leite. Camacho cita, ainda, a contaminação do leite em função do uso equivocado de carrapaticidas, que expõe os produtores e/ou funcionários à inalação do produto. Portanto, as Boas Práticas Agropecuárias devem ser sempre seguidas, entre elas o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e, principalmente, obedecer a indicação e a quantidade corretas do produto. Normalmente, a recomendação na embalagem é a diluição em quatro a cinco litros de calda por animal; como a maioria das bombas costais usadas pelos pecuaristas tem capacidade para 20 litros, então uma bomba pulveriza quatro ou cinco animais. “Mas, na tentativa de economizar, muitas vezes o produtor usa 20 litros para pulverizar de 15 a 20 animais. Ao fazer isso, não acabará com a infestação, pois terá apenas feito uma ‘nebulização’ nos carrapatos. Os carrapatos não irão morrer, mas no contato com o carrapaticida aquela cepa começa a desenvolver resistência ao princípio ativo. Na próxima vez, o pecuarista usará mais produtos ou fará mais pulverizações, em um ciclo constante, interminável, prejudicial e caro. São essas e outras informações que procuramos repassar nas capacitações oferecidas aos produtores”, explica Cláudio Camacho Menezes, destacando que, atualmente, há muita resistência aos carrapaticidas devido ao uso inadequado do produto. “Mas, na verdade, a reclamação constante em relação ao controle do carrapato deriva do uso errado ou equivocado dos produtos de controle”, alerta.
Há, ainda, outro fator que tem influência na maior infestação por carrapatos, e ocorre quando há um melhoramento genético do rebanho. O motivo é que o gado misto tem o componente das raças zebuínas, mais resistentes ao carrapato. Quando se usa a genética taurina, como a holandesa ou outras raças europeias para o aumento da produção de leite, é introduzido um “sangue mais doce”, ou seja, mais propício aos carrapatos, aumentando, dessa forma, as infestações. O produtor, ao melhorar a genética, deve estar atento a este fato para se antecipar ao problema e fazer o controle adequado.
Capacitar os produtores e fazê-los compreender o ciclo biológico e a aplicação correta de produtos, nas épocas adequadas, têm sido o maior desafio da extensão. “A maior ou menor infestação e os prejuízos vão depender dessa orientação e da aplicação das BPA pelo produtor”, orienta o técnico, que tem sido responsável por capacitar diretamente os produtores e também outros técnicos que atuam na extensão, para atingir o maior número possível de pecuaristas voltados à produção de leite, uma atividade encontrada em todas as regiões do Estado de São Paulo.
Métodos de controle – Quando e como tratar e que produto utilizar?
– Os banhos carrapaticidas devem ser feitos de acordo com a indicação da bula e em todo o corpo do animal, mesmo nas partes mais escondidas e no sentido contrário do pelo, de baixo para cima, próximo ao corpo do animal e contra o vento. O animal deve ser contido para um banho mais adequado.
– As pulverizações, de cinco a seis, devem ser feitas em intervalos de, no máximo, 21 dias, para quebrar o ciclo no animal e diminuir a infestação futura nas pastagens. Há outros produtos, como os injetáveis, mas não são indicados para vacas leiteiras.
– Evitar os horários de sol, dar preferência ao final da tarde, para não haver perda de produto.
– Após o tratamento, a infestação irá diminuir de forma considerável, porém muitos animais podem continuar infestados, principalmente aqueles que têm “sangue doce”, na verdade, sangue europeu. Esses animais devem ser separados para continuar o tratamento.
– Fazer os testes de resistência a carrapaticidas. Como os carrapatos vivem em uma única área, o mesmo carrapaticida que serve ao vizinho pode não ser o mais adequado para o rebanho do outro. É preciso saber qual o melhor carrapaticida para aquela situação específica. Os testes podem ser feitos em empresas e/ou faculdades; a Embrapa Gado de Leite, em São Carlos, realiza os testes gratuitamente.
– Usar os carrapaticidas nas épocas mais adequadas. A época mais adequada é aquela em que os fatores de temperatura e umidade forem desfavoráveis aos micuins. O clima seco e quente é o ideal para o controle porque as larvas não sobrevivem muito nessas condições. No Estado de São Paulo, essa condição é bastante variável de uma região para outra, então é preciso estar atento para esse fator que irá, com certeza, contribuir para a erradicação ou redução dos carrapatos nos animais e, consequentemente, nas pastagens.
Pesquisa científica
A Secretaria de Agricultura mantém em seus Institutos de Pesquisa estudos relacionados ao controle do carrapato. O Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), por exemplo, desenvolveu uma fórmula de produto natural para o controle do carrapato em parceria com a HYG System. Em testes in vivo o uso do produto resulta na morte de diversas fases do carrapato em 48 horas. O teste in vitro mostrou 100% de mortalidade da fêmea, que nem chega a por ovos.
O Instituto Biológico (IB-APTA) desenvolve pesquisa para o controle do carrapato-do-boi utilizando controle biológico. A estratégia dos pesquisadores é utilizar uma cepa de fungo selecionado pelo Instituto, chamada IBCB 425, que se mostrou eficiente para o controle desses carrapatos em grandes áreas. Pesquisadores do IB e do Instituto Agronômico (IAC-APTA) estudam utilizar drones para fazer a aplicação do produto. O IAC, IZ e IB são ligados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria.
Via Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo