3 passos para a sucessão familiar dar certo e trazer resultados
Para uma boa sucessão é preciso unir adaptação na gestão, investimentos em tecnologias e planejamento para uma produção sustentável
Por Flavia Macedo
COMPARTILHE NO WHATSAPP
Primeiramente, fazer com que a sucessão familiar dê bons frutos não é tarefa simples. Em muitas propriedades rurais, o desafio vai além de ensinar a rotina diária de trabalho. Contudo, é possível ter uma administração de sucesso, geração após geração.
Para falar sobre esse assunto, aproveitamos o conteúdo de uma palestra realizada no Dia de Campo Seguro, em Sales Oliveira, interior de São Paulo, pela avicultora, Luciana Portugal.
A avicultura da família produz 500 mil frangos por ciclo, que dura cerca de 2 meses, sendo 40 dias produção e 20 dias de desinfecção. Dessa forma, o volume anual é de 3 milhões de aves, que são entregues para frigoríficos da Seara.
Luciana está sendo preparada pelo pai, Paulo Portugal, para assumir a gestão da propriedade futuramente e faz um alerta: para o filho ficar, o pai precisa dar espaço pra ele.
Pai e filha – Foto: arquivo pessoal
Em sua palestra, ela abordou um ponto essencial para que a sucessão dê certo. É preciso pensar na gestão baseada no tripé formado por: liderança, sustentabilidade e tecnologia.
“Não existe sucessão sem profissionalização, elas caminham juntas. Não existe profissionalização se o gestor não pensar quem vai suceder e se não tiver profissionalização não tem sucessão”.
3 passos para você seguir para ter uma sucessão de sucesso
1) Liderança: o pai tem a experiência e o filho a inovação
“O líder é o pai, só que diferentemente de uma empresa, não há uma rotação na troca de líder da empresa. Então a responsabilidade é maior ainda do que a de um executivo dentro de uma grande empresa, porque o executivo uma hora pode estar em um setor e outra hora em outra divisão, porém, na propriedade rural, quem vai inspirar aquele filho é o pai dele”.
Nesse sentido, de acordo com a empresária, a transição geracional não pode acontecer do dia pra noite, mas sim, ser feita ao longo do tempo para que o sucessor esteja pronto quando chegar o momento de assumir o negócio.
Cada um tem o seu papel na empresa
Por outro lado, quando Luciana decidiu se aproximar da empresa da família, aos 23 anos, o primeiro passo foi entender o papel de cada um na empresa.
“A gente entendeu rapidamente que cada um teria um papel e ele me deixou errar, ele me deixou ser exposta ao errar e começar de novo”.
“Sempre me perguntam, qual que é a dica para os jovens chegarem no negócio? A dica para chegar no negócio é ter espaço. Se o pai, a mãe ou o gestor não derem espaço, ele não vai chegar. Entretanto, uma vez que chegar, para que ele fique, tem que estudar, porque o agronegócio não é brincadeira”.
2) Investir em tecnologia
“Quando eu cheguei, eu não tinha o olhar clínico que o meu pai tinha para saber se alguma coisa ia dar certo ou não, mas eu tinha uma coisa que ele não tinha e ele percebeu isso, que era a facilidade com a internet e com a tecnologia e, ainda, a facilidade em interagir com clientes e com a indústria”.
Na propriedade da família, Luciana ajudou a implantar algumas ferramentas tecnológicas para aumentar a produtividade e diminuir o custo de produção.
Tecnologia no ‘pé’ do silo
No silo onde fica toda a ração que os animais consomem, foi instalada, na parte inferior, uma célula de carga. Dessa forma, ligado a essa célula de carga, um controlador é ligado a outras balanças que vão pesar o frango. Em suma, a ração vai sendo pesada em tempo real.
“A gente sai de uma situação na avicultura de olhar pelo retrovisor, onde depois de uma semana a gente pesa o frango pra ver o que tá acontecendo, para então começar a olhar em tempo real, através de nossos celulares”.
“O jovem não gosta de ficar na fazenda o dia inteiro, não é o perfil do jovem. Mas talvez acompanhar, gerenciar e analisar esses dados que são coletados seja interessante pra ele”.
“Esse sistema inclui algoritmos complexos e inclui milhares de pesagens e isso é um dos motivos que traz os jovens para perto e, mais importante, faz ele ficar. Afinal, não adianta vir e logo ir embora para a vida urbana”.
Silo – Foto: arquivo pessoal
Tecnologia em aviculturas brasileiras
Atualmente, o Brasil é uma grande referência em tecnologia aplicada nas aviculturas, não perdendo em nada para outros países produtores.
“Esse controlador de dados é um desses exemplos de tecnologia. Dentro dele a gente consegue armazenar todos os dados dos lotes dos últimos anos. Então, por exemplo, em uma visita de auditores é muito comum um deles olhar e falar ‘eu quero aproveitar essa tecnologia e eu quero dar uma olhada no que aconteceu há três lotes atrás, eu quero entender tudo que você tá me falando’, isso é comum”, comentou Luciana.
Frequentemente, o aparelho mede a ambiência de temperatura, conforto térmico, entre outras coisas. Além disso, para acessar os dados, basta inserir um pendrive e copiar as análises.
Controlador de dados – Foto: arquivo pessoal
3) Buscar uma produção sustentável
Ainda segundo Luciana, sustentabilidade não é só uma palavra bonita, porém, sim, é a palavra que vai determinar se o jovem fica ou não. Isso porque esse é um tema muito falado na sociedade e a maioria dos jovens quer seguir por esse caminho.
“Dessa forma, se ele detecta que naquele ambiente isso [sustentabilidade] não é respeitado, esse jovem não fica”.
“Qualquer decisão que a gente, no papel de gestor, vier a tomar, esse impacto terá que ser medido. A matriz de sustentabilidade não é só ‘eu tenho que ganhar dinheiro para o negócio perdurar”. Eu tenho que baixar o impacto ambiental e tenho que ter alto impacto social”.
Mudanças na prática
Energia solar
Foram implantadas duas miniusinas com placas de energia fotovoltaicas e, como resultado, a capacidade atual de geração de energia de 20 mil quilowatt-hora, por mês, em cada usina, portanto, é suficiente para atender 70% da demanda de energia na avicultura.
Placas de energia fotovoltaica – Foto: arquivo pessoal
Bio compostor
Uma máquina com capacidade de 20 metros cúbicos e mais de 30 metros de comprimento faz o trabalho de compostagem.
“A gente coloca a mortalidade dentro de um balanço energético com uma fonte de carbono, como maravalha, palha de amendoim, bagaço de cana, por exemplo, e deixamos esse material ser bio compostado durante 14 dias. Dessa forma, resolvemos o problema da mortalidade e ainda nos presenteia com um fertilizante orgânico riquíssimo”.
Bio compostor – Foto: arquivo pessoal
Captação de água da chuva
Outra medida de sustentabilidade implantada foi o sistema de captação de água da chuva, que fica em volta dos três galpões de 165 metros por 18 metros, cada um.
“A gente está colocando dentro dessa cisterna cerca de 3 milhões de litros de água. Com isso, usamos menos água de outras fontes”.
Sistema de captação de água da chuva – Foto: arquivo pessoal
Custa caro para implantar medidas de sustentabilidade?
Para finalizar o assunto, Luciana fala sobre o valor necessário para instalações de modelos tecnológicos e sustentável. Segundo ela, definitivamente, o custo benefício vale a pena.
“Obviamente é um pouco caro, mas hoje tem tanta linha de crédito, tem tanta empresa no mercado que eu acho que o caro não é justificativa”.
“O que eu venho chamar atenção é que se a gente deixa o jovem entrar no negócio, se os pais, verdadeiramente, deixarem os jovens criarem, usar a criatividade, talvez ele mesmo possa, inclusive, criar esses projetos de tecnologia e sustentabilidade. Tem que haver o espaço para o jovem possa ficar”.
Pai e filha – Foto: arquivo pessoal
“Sucessão é uma estrada que a família tem que andar junta”
“Eu acredito que a sucessão familiar seja uma estrada e que a gente tem que andar juntos. É uma estrada que a gente, como família, decide andar junto”.
“Vai ter divergência, mas aí, de forma muito madura, como família e como empresa, a gente senta e dá um passo para trás e analisa. Vamos olhar e entender o que está acontecendo. Tem que ser um ambiente criado por toda a família, não adianta só conversar, tem que preparar o filho para ser um grande sucessor”.